A TRAVESSIA
quinta-feira (07/02)
Juro que pensei em desistir. Mas, acordei às 4:45hs da madrugada. O vento estava assoviando pela janela. E soprando daquele jeito naquela hora seria o sinal de muito mais vento mais tarde. E como vinha da direção nordeste ou leste, não sabia ao certo, era um fator preocupante.
Foto da janela, quando acordei, às 4:45hs acordei, às 4:45hs
Mas, o negócio é tentar pentear o cabelo (árdua tarefa. Melhor botar um boné), desamassar a cara, comer um pãozinho básico, juntar as trouxas e partir para a aventura.
- Acorda danada, vamos nessa. Deixa de preguiça. (Mario)
Esse foi o tom para levantar o moral da “tropa” (dupla).
- Vamos embora que temos que sair pelas 6hs e ainda precisamos comer e armar o barco. (Mario)
- Temos que passar pela praia Brava antes do dia amanhecer. Bora, Bora, vamos! (Mario)
Pegamos o carro e fomos até o terreno onde estava estacionado nosso reboque. Apanhamos o material, nos dirigimos para a praia e montamos o barco em aproximadamente 30 minutos. O fato é que por volta das 6:20hs estávamos entrando no mar ondulado de Jurerê.
No barco levamos uma sacola contendo roupas, água mineral e uma ração a base de castanha do Pará e passas. Só que não conseguimos comer a bendita mistureba – e passamos fome por isso - justamente porque ficou dentro da tal sacola, que por sua vez estava super amarrada e envolta num saco plástico de lixo. A preguiça de abrir o saco era maior que a fome.
Foto: Ilha do Francês (Canasvieiras) ao fundo. O dia amanhecendo.
O vento estava de intensidade média mas necessitava de ao menos um trapézio. No entanto, o mar se apresentava bem revolto, com ondas significativas. Na saída, talvez em razão do horário, o tempo estava razoavelmente frio, tanto que nos equipamos com essas roupas de proteção (vide fotos).
PRAIA BRAVA E INGLESES
Por volta das 7:30hs cruzamos ao largo da Praia Brava. Realmente contornar aquele ponto com vento leste não é fácil. O mar é muito bravo e as ondas dão um certo frio na barriga. Mas, tínhamos que afastar o medo e eu, na condição de comandante, não poderia transparecer fragilidade. Se resolvemos entrar na jaula do leão, que então morramos abraçados com ele.
Telefonei para o enfadado Schneider (7:40hs) e acordei o chucrute. Ele, junto com a Helena e o Adriano, estava ficando na Praia Brava:
- Acorda porra de uma figa, isso é hora de gente está dormindo? (Mario)
- Que é seu baitola? Vai dormir. (Schneider)
- Tô aqui na frente da tua casa (Mario)
- No portão? Já vou ai. (Schneider)
- Que portão ô cacete, no meio do mar, bem no fundão, dá uma olhada ai. Eu não te falei que eu ia fazer essa porra de travessia? Eu sou fodão! (Mario)
- Tu és doido cara. O Halla me disse que nessa lestada as ondas são enormes. (Schneider)
- Então eu surfo elas. Te ligarei durante o percurso. Volta pra caminha seu jóquei de gibóia. (Mario)
Ao chegarmos em Ingleses o tempo começou a virar. Muitas nuvens no horizonte. Clima pesado. E foi-se o ventinho que até então nos brindava com sua companhia. Comecei a achar que estávamos nos metendo numa roubada. Mas, voltar seria humilhante.
Com o vento virando cada vez mais para leste, tivemos que fazer o percurso num ¾ (um popa fechado). O que nos obrigava a ficar dando jibe’s (manobra de cambada no vento que vem quase por trás). Teve momentos que o que nos empurrava para frente eram as ondas. Elas e a vontade de chegar, claro.
Daí comecei a ficar preocupado, já que estávamos próximos do Costão do Santinho. Um lugar lindo de se ver, da praia. Passar por ali, sem vento e empurrado pelas ondas dá um certo desconforto, para não dizer um certo aperto num determinado “local” do nosso corpo.
E se o barco fosse empurrado em direção a arrebentação? Não se tinha muita coisa a fazer. Seria torcer para que a proeira tivesse de bem com os Santos, já que eu faz tempo que não apareço numa igreja.
Naquela altura do campeonato aconteceu o primeiro stress na tripulação. A proeira reclamando que estava enjoando. Eu dizendo que ela sabia o que ia encontrar e mesmo assim quis ir. Ela falando que eu sou um grosso. Eu dizendo que ela é uma criança chorona. E por ai vai...
MOÇAMBIQUE
Vencida a etapa do Santinho e vislumbrando a enorme praia de Moçambique, o astral melhorou bastante. Água clarinha e com pouca ondulação. Ao menos fiquei mais tranqüilo porque havia praia ao invés de costão de pedras.
Ali recebemos a primeira das três ou quatro ligações do novo amigo Chico, dono do Mercado Jardim, que fica ali em Canasvieiras. Uma pessoa gentil e muito solicita. Nos monitorou o tempo inteiro, através de telefonemas. Muito bacana a atitude dele e gostaria de deixar isso registrado aqui e agora.
Mas, voltando ao barco, lembro que a Karol praticamente chorava pedindo para pararmos numa praia, pois estava enjoada demais. Olhos caídos. Cabelos desgrenhados. Mau humor do cão. E eu tentando enrolar a danada. Mas a bicha é geniosa.
- Está bem. Vamos dar uma cambada em direção a praia e ver se temos condições de parar. (Mario)
- Mariôooo. Você não entende. EU ESTOU ENJOADA. Preciso sair deste barco. Preciso parar na praia. (Karol)
- Karolzinha, minha querida. Eu só vou parar se tivermos condições de voltar. Se tiver onda alta, sem vento, eu não consigo sair da praia e nós vamos ficar ali no meio do nada é? (Mario)
Foto: Karol, enjoada e p. da vida comigo. No fundo, Moçambique.
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